domingo, 19 de maio de 2013

A ameaça oculta dos Smartphones


No seguimento de anteriores posts publicados, achei interessante abordar um artigo da Revista Courrier Internacional que tive recentemente oportunidade de ler, cuja edição remonta a Março do presente ano (2013) sobre “A ameaça oculta dos smartphones”.
Este artigo é retratado na primeira pessoa por um jornalista de investigação cujo nome não é revelado mas que, através do seu estudo, nos transmite a verdadeira realidade por de trás da tecnologia.


O autor inicia a sua exposição fazendo referência a uma conversa informal com um talhante residente em Bukit Merah (Malásia), que em 1980 era dono de um empresa de transportes. Este talhante, de nome Hew Yun Tat, trabalhava para a Asian Rare Earth (uma fábrica local, copropriedade do grupo Japonês Mitsubishi Chemical), que fornecia metais raros para o sector da electrónica de grande consumo. O trabalho consistia apenas em desfazer-se dos detritos da fábrica. Sem conhecer a verdadeira realidade, Hew Yun Tat acreditava quando os proprietários da mesma lhe diziam que os detritos eram apenas fertilizantes, os quais inocentemente depositava em herdades.
“Como o meu tio cultiva legumes, também costuma deixar uma parte na quinta dele”, diz Hew Yun Tat. Acrescenta ainda que os funcionários da refinaria ofereciam aos transportadores uma mistela, que diziam ser cal viva. Um dos motoristas até a usou para pintar a casa…!
Na realidade, o que Hew Yun Tat e os seus empregados transportavam eram detritos tóxicos e radioactivos, o que só descobriram um ano mais tarde quando a Asian Rare Earth começou a construir um aterro numa cidade vizinha. Os habitantes opuseram-se tendo alguns levado um contador Geiger. Detetaram níveis de radioactividade 88 vezes superiores aos máximos internacionais.

Em 1985, os habitantes interpuseram uma acção judicial que forçou o Governo a encerrar a fábrica até a Asian Rare Earth limpar o terreno. Tinham ainda começado a haver muitos abortos entre mulheres da vizinhança bem como frequentes casos de recém-nascidos cegos, com perturbações mentais ou sofrendo de leucemia. Neste seguimento, a administração pública informou os residentes que os detritos eram sujeitos a tratamento, muito embora não se consiga perceber em que medida porque em 2010, repórteres de um jornal local encontraram no aterro da Asian Rare Earth 80 mil bidões com 16 mil litros de hidróxido de tório (um composto radioactivo).

O autor do artigo em análise refere que foi o seu Iphone que o levou à Malásia, por ter lido artigos sobre fábricas da Apple na China onde adolescentes passavam horas por dia a limpar ecrãs com solventes tóxicos, descobrindo assim que o “lado negro” dos smartphones começava muito antes da sua montagem. Os materiais utilizados na produção deste tipo de equipamento provêm de recursos preciosos extraídos de Estados pobres, deixando a cargo dos mesmos a conta da limpeza.

Em 2008, o Governo da Malásia autorizou uma empresa australiana (a Lynas Corporation) a abrir uma fábrica de processamento de terras raras na costa leste do país. A extracção do minério será feita na Austrália mas o tratamento e refinação será feito em Kuantan (Malásia). Esta fábrica será a maior do seu ramo, abastecendo 20% do mercado mundial de terras raras, o que para o Governo da Malásia representa uma oportunidade para chegar ao primeiro plano de uma das indústrias mais lucrativas. Cerca 20 anos depois do encerramento da fábrica de Bukit Merah, a procura de terras raras duplicou. De facto, este sector representa actualmente 7,4 milhões de euros e prevê-se que a procura aumente 36% até 2015. Graças a estes metais raros (terras raras), conseguem-se fabricar circuitos electrónicos com um desempenho até há pouco impensável.

Por exemplo, o ítrio (que constitui um desses metais raros) é a base de um conjunto de compostos que permite aos ecrãs LCD emitir luz.

A questão central de toda a temática em análise gera em torno do facto de estes metais aparecem associados na natureza a elementos radioactivos como o urânio ou tório e separá-los com segurança requer um processamento complexo. Este processo consume quantidades abismais de água e energia (correspondendo, respectivamente, à água necessária para encher três piscinas olímpicas e à energia para iluminar 50 mil residências). O líquido final é fervido para separar os metais dos elementos radioactivos e é neste procedimento que surgem os problemas: os depósitos destes compostos têm de estar bem isolados, caso contrário correr-se-á o risco de infiltrações nos lenções freáticos. O autor refere ainda que estes materiais têm de ficar armazenados para sempre dado que o tempo que levam a perder radioactividade é de 14 mil milhões de anos para o tório e 4,5 mil milhões para o urânio. Ora, o planeta Terra existe há 4,5 mil milhões de anos, sendo todo este o tempo para que um elemento como o urânio se torne inofensivo. Considera ainda não ser por acaso que as instalações destas fábricas se encontram em regiões cujas normas ambientais são praticamente inexistentes.

Conclui o artigo referindo que “ tudo isto para que eu e os meus amigos possamos conversar sobre a ordem de aparição dos três primeiros álbuns dos Metallica sem sair do sofá”.


Retirado de:
·       -   Courrier Internacional; Nº205, Março de 2013; Imprensa Publishing.


Mónica Lopes
Nº16794
Subturma 3

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