INDICE
Introdução---------------------------------------------------------------------------------------------------1
Enquadramento: Energia
Nuclear------------------------------------------------------------------2/3
·
Ernest Rutherford
·
Sistema de Fusão
e Sistema de Fissão
·
Esquema de Fissão
Vantagens
utilização energia nuclear------------------------------------------------------------4/5/6/7
·
Convenção
sobre segurança nuclear – Declaração da Comunidade Europeia da energia atómica”
·
Regulamento (EURATOM) 300/2007 (de 19
de Fevereiro)
·
Directiva 2009/71/EURATOM do Conselho
(25 de Junho)
·
Parecer do Comité Económico e Social
Europeu sobre a Fusão Nuclear (2004/C 302/07)
Desvantagens da sua utilização-----------------------------------------------------------------8/9/10/11
·
Enquadramento
histórico acidentes nucleares
Industria Nuclear------------------------------------------------------------------------------------12/13/14
·
Breve
referência licenciamento
·
Tipos
de Reactores
Opiniões sobre a
temática-------------------------------------------------------------------------15/16/17
·
James
Lovelock
·
Patrick
Moore
·
Mira
Amaral
·
Quercus
Em
Portugal----------------------------------------------------------------------------------------18/19/20/21
Conclusões
Finais----------------------------------------------------------------------------------------22
Bibliografia------------------------------------------------------------------------------------------------23
INTRODUÇÃO
O presente trabalho
aborda uma temática actual e controversa. Se por um lado é verdade que a
energia nuclear pode constituir uma mais-valia e uma fonte de energia
alternativa rompendo com a dependência dos combustíveis fosseis, por outro
lado, as desvantagens e os riscos da sua utilização tornam o seu debate tabu.
Serão dadas a conhecer
vantagens como sendo a não emissão de gases causadores de efeito de estufa;
excerto de directivas, regulamentos e pareceres oriundos dos mais altos órgãos
da União Europeia, como fonte de protecção e controlo, sempre com vista à
tutela e preservação da energia nuclear para fins pacíficos, bem como opiniões
de especialistas e até ambientalistas a favor.
Serão igualmente dadas a
conhecer as principais desvantagens inerentes à sua utilização, como sendo os
elevados custos de manutenção e o atractivo bélico que representa. Far-se-á
ainda um curto enquadramento histórico dos principais acidentes nucleares,
tendo em vista a demonstração das reais consequências da energia nuclear como
fonte alternativa.
Com o presente documento,
pretende fazer-se uma analise imparcial de custo/benefício assim como a
ponderação de valores, tão necessária à temática em causa.
1
1 - Enquadramento: Energia Nuclear
1 - Ernest Rutherford
Ernest Rutherford (1871-1937) foi considerado o fundador da física nuclear.
Rutherford introduziu o conceito de núcleo atómico ao investigar a dispersão das partículas alfa por folhas delgadas de metal. Rutherford verificou que a grande maioria das partículas atravessava a folha sem se desviar e concluiu, com base nessas observações e em cálculos, que os átomos de ouro - e, por extensão, quaisquer átomos - eram estruturas praticamente vazias, e não esferas maciças. Rutherford também descobriu a existência dos protões, as partículas com carga positiva que se encontram no núcleo.
Pelas suas investigações sobre a desintegração dos elementos e a química das substâncias radioativas, obteve em 1908 o Prémio Nobel da Química. Foi também presidente da Royal Society (1925-1930), e homenageado em 1931 com o título de primeiro barão de Rutherford de Nelson e Cambridge
A energia nuclear, muitas
vezes intitulada de atómica, consiste na energia existente no núcleo do átomo e
que sendo libertada, pode ser aproveitada para a produção de energia, através
de dois métodos essenciais:
·
Sistema de fusão, em que dois núcleos atómicos de
pequena massa se fundem formando um novo e mais pesado núcleo, libertando energia
sob a forma de calor. Este processo só acontece naturalmente em estrelas, como
o Sol.
·
Sistema de fissão, em que um núcleo de grande massa se
separa de forma espontânea, formando dois outros fragmentos mais leves,
libertando energia sob a forma de calor e radiação, durante o processo[1].
É usada em diversas centrais nucleares em todo o mundo, como sendo a França,
Japão, Estados Unidos, Alemanha, Brasil, Suécia, Espanha, China, Rússia e
Coreia do Norte.
2
|
Na produção de energia,
são utilizados recursos energéticos como o Urânio
(U) e o Tório (Th), minerais
radioactivos, cujas reservas são abundantes, não se colocando a questão da sua
escassez no curto ou médio prazo.
Começando por ser
explorada na década de 50, expandiu substancialmente nos anos 60 na sequência
de uma forte subida do preço do petróleo. Assim, os Estados começaram a
procurar alternativas para romper com a dependência relativamente aos
combustíveis fosseis.
O entusiasmo da sua exploração
rapidamente deu lugar a descontentamento global aquando a ocorrência de acidentes.
Á medida em que se foi tornando evidente a ausência de soluções para o tratamento
dos resíduos radioactivos, muitos Estados viram-se obrigados a suspender e
encerrar os correspondentes programas nucleares.
Actualmente, a controvérsia
passa pelos efeitos ambientais que a sua utilização provoca, à qual acresce
ainda a problemática da segurança bélica, nomeadamente o terrorismo. Ainda
assim, existem inúmeras vantagens agregadas à utilização da energia
nuclear, embora os resultados possam não ser visíveis no imediato. É vista
como uma possível alternativa ao alto consumo e dependência externa do
petróleo.
3
|
2 – Vantagens da
utilização da energia nuclear
Pese embora toda a
controvérsia relacionada com a temática em análise, nomeadamente os riscos da
sua utilização imprudente (cuja analise terá igualmente lugar no presente
documento), a energia nuclear como alternativa aos combustíveis fosseis
apresenta vantagens que não podem, de modo algum, ser desconsideradas. De entre
um sem fim de vantagens a apontar, considerei de destacar as seguintes:
· Não contribui para o aquecimento
global
A
energia nuclear é tida, por grande parte da comunidade científica, como uma
alternativa viável a alcançar as metas de redução de emissão de carbono (CO2), permitindo
o cumprimento do compromisso assumido pela Comunidade Europeia no Protocolo de Kyoto,
de não produzir gases causadores de efeito de estufa. Há décadas que a fissão
nuclear é utilizada para a produção de energia, tendo contribuído em grande
medida para a redução de emissão de gases produtores de efeito de estufa, bem
como tendo já atenuado a procura e importação de petróleo e até mesmo gás
natural.
4
“A utilização na prática de ambas as formas de energia
nuclear tem como objectivos:
(1) gerar
electricidade sem emissão de gases com efeito de estufa e,
(2) reservar para o
sector dos transportes o consumo dos combustíveis fósseis (petróleo e gás
natural), cuja combustão produz comparativamente menos CO2 do que o carvão e é
por isso usada cada vez mais mesmo para a produção de electricidade.”[2]
“Há décadas que a fissão nuclear é utilizada para a produção
de energia. As centrais nucleares contribuíram já em grande medida para a
redução das emissões de gases com efeito de estufa (como o CO2) e para atenuar
a dependência das importações de petróleo ou de gás natural. É por isso que o
debate sobre a energia nuclear voltou à ordem do dia, sobretudo no que toca à
redução das emissões de CO2 e aos instrumentos previstos para esse efeito.”[3]
·
Estabilidade de preços
A
matéria-prima utilizada para a produção de energia atómica (normalmente Urânio)
existe em abundância, o que permitirá uma maior ponderação custo/benefício a
nível de preços, ao contrário da utilização do petróleo, cada vez mais escasso
e dispendioso. Ainda que dependente da importação de Urânio, a fonte de energia
em causa apresenta-se como menos dispendiosa, na larga medida em que a procura
deste mineral é ainda muito escassa, o que permite uma maior estabilidade do preço de aquisição, como se pode aferir
tomando como exemplo a Suécia.
5
- A comparação do preço pago em diferentes países
europeus, demonstra que a Suécia tem um dos preços mais baixos de
electricidade, o que poderá ser explicado pelo sistema de aprovisionamento do
país, principalmente baseado na hidroelectricidade e centrais de Energia
Nuclear com baixos custos operacionais.
·
Estabilidade de gerações
Não está sujeita às
intempéries das restantes energias renováveis como, por exemplo, os períodos de
pouca incidência solar numa central fotovoltaica, acarretando variações na
energia produzida e consequente instabilidade de fornecimento. O Urânio, pelo
contrário, constitui uma fonte de energia concentrada. Uma pequena porção deste
mineral será suficiente para abastecer uma cidade inteira, fazendo assim com
que não seja necessário um grande investimento nos recursos.[4]
“O Comité partilha da opinião da Comissão de que a utilização
pacífica da energia da fusão nuclear pode constituir uma solução duradoura para
o aprovisionamento energético por ser sustentável, compatível com o ambiente e
competitiva.”[5]
·
Efectiva regulação e controlo
Existem inúmeros diplomas e pareceres
com vista ao controlo da utilização nuclear. Uma das maiores questões
associadas ao risco de utilização desta alternativa energética passa pelo
efectivo receio do seu uso para fins não pacíficos, como sendo a ameaça bélica.
A este respeito, foram elaborados inúmeros esforços e concretizações para que a
utilização da energia nuclear não se torne mais numa ameaça do que mais-valia.
Inúmeros Estados, não só europeus, se comprometeram a dar a utilidade pacífica
à dita energia. De entre os diplomas ratificados, são especialmente relevantes:
6
- “Convenção sobre segurança nuclear – Declaração da Comunidade Europeia
da energia atómica”, nos termos da qual os Estados signatários se mostram
conscientes relativamente à temática assinalando que,
“i) Cientes da importância que tem
para a comunidade internacional assegurar que a utilização da energia nuclear é
segura, bem regulamentada e não prejudica o meio ambiente;
ii) Reiterando a necessidade de
continuar a promover níveis elevados de segurança nuclear em todo o mundo;
iii) Reiterando que a responsabilidade pela segurança nuclear cabe ao
Estado com jurisdição sobre a instalação nuclear;
- Regulamento (EURATOM) 300/2007 (de 19 de Fevereiro), que institui
um instrumento para a cooperação no domínio da Segurança nuclear, estabelecendo
que,
“É
particularmente necessário que a Comunidade prossiga os seus esforços de apoio
à aplicação de salvaguardas eficazes dos materiais nucleares em países
terceiros, com base nas suas próprias actividades de salvaguarda dentro da
União Europeia”[7] e que, “é necessário
financiar medidas de acompanhamento que apoiem os objectivos do presente
regulamento, nomeadamente acções de formação, investigação e apoio à aplicação
de convenções e tratados internacionais. É desejável coordenar as acções
empreendidas ao abrigo dessas convenções e tratados com as acções da
Comunidade;”[8];
7
- Directiva 2009/71/EURATOM do Conselho (25 de Junho), que institui
um quadro comunitário para a segurança das instalações nucleares e na qual se
estabelece que,
“A responsabilidade nacional dos
Estados-Membros pela segurança nuclear das instalações nucleares é o princípio
fundamental a partir do qual a regulamentação relativa à segurança nuclear foi
desenvolvida a nível internacional, conforme a consagra a Convenção sobre a
Segurança Nuclear. A presente directiva deverá realçar esse princípio da
responsabilidade nacional e o princípio da responsabilidade primordial pela
segurança nuclear das instalações nucleares do titular da licença, sob o
controlo da sua entidade reguladora nacional, e reforçar também o papel e
independência das entidades reguladoras competentes.”[9]
A estes diplomas, acresce ainda o Parecer do Comité Económico e Social
Europeu sobre a Fusão Nuclear (2004/C 302/07), anteriormente referido, e
através do qual se pretendeu analisar o desenvolvimento dos reactores de fusão
nuclear e as vantagens que estes apresentam em termos de segurança e de
protecção ambiental. Tendo em conta o problema global do aprovisionamento
energético.
3
– Desvantagens da sua utilização
Pese embora os esforços e concretizações dos referidos
diplomas, e a fácil dedução de que num futuro próximo se tornará a principal
fonte de energia, certo é que a energia nuclear se apresenta também como
portadora de riscos, para os quais ainda não existem respostas rápidas e
eficientes para a diminuição da radioactividade em caso de catástrofes
acidentais.
8
·
Os ambientalistas tomam como base de
argumentação contra a utilização de energia nuclear o perigo de radioactividade
inerente à prática, uma vez que uma pequena fuga de material radioactivo pode
causar danos significativos à população e ao ambiente. Muitos concretizam o
argumento através do primeiro acidente nuclear verificado, o acidente de Three Mans Island (em 1979). Esta
central nuclear, situada na Pensilvânia (EUA), sofreu um escoamento do líquido
de refrigeração do reactor nuclear. As consequências derivadas repercutiram-se
nas regiões vizinhas, devido aos danos de deterioração térmica. Este
acontecimento trouxe consigo enorme insatisfação e insegurança quanto à
utilização da energia nuclear como fonte, insegurança essa substancialmente
agravada aquando a maior catástrofe nuclear em Chernobil (1986 – Ucrânia) que produziu uma nuvem de
radioactividade que atingiu a, à data, União Soviética, Europa Ocidental,
Escandinávia e Reino Unido, o que se repercutiu na evacuação de mais de 200 mil
pessoas. A contaminação provocada correspondeu a 400 vezes a radiação emitida
pela bomba lançada em Hiroshima (Japão). Um relatório da ONU (Organização das
Nações Unidas) em 2005, estimou um número de 56 mortes até à data – 47
trabalhadores da central nuclear e 9 crianças com cancro na tiroide. Estimou
igualmente que, cerca de 4 mil pessoas padeceram de doenças relacionadas com a
radioactividade.
Assinalam-se duas teorias, a título oficial, como possíveis
causas do acidente: erro humano e defeito
no reactor nuclear. Muito embora, até à data, não tenha sido possível
apurar responsabilidades, facto é que a Comunidade Europeia, no já citado
Regulamento (EURATOM) 300/2007 vem determinar que,
“O acidente de Chernobil, ocorrido em
1986, veio demonstrar a importância global da segurança nuclear. A fim de
cumprir o objectivo do Tratado que institui a Comunidade Europeia da Energia
Atómica (adiante designado "Tratado Euratom") de criar as condições
de segurança necessárias para eliminar os perigos para a vida e a saúde das
populações, a Comunidade Europeia da Energia Atómica (adiante designada
"Comunidade") deverá estar em condições de apoiar a segurança nuclear
em países terceiros”[10], demonstrando a constante preocupação com a
temática.
·
A este propósito,
será relevante mencionar uma notícia recentemente publicada, cujo conteúdo parece corroborar as desvantagens da energia
nuclear. Fontes indicam que a Central Nuclear de Fukushima (Japão) poderá ter
uma fuga num contentor, provocando o escoamento de água contaminada.[11]
A TEPCO (Tokyo Electric Power) anuncia
ter detectado radioactividade fora do reservatório.
“O mais
recente anúncio da TEPCO (Tokyo Electric Power) surge um dia depois de a
empresa ter dito que podem ter sido derramadas até 120 toneladas de água
contaminada de outro dos sete reservatórios subterrâneos da central, apesar de
ter ressalvado que era pouco provável que a água fluísse para o mar.”
Além das
inestimáveis consequências que, a longo prazo, se poderão verificar pelo
encadeamento dos subsequentes desastres nucleares, bem como o risco inerentes
aos mesmos, é ainda possível indicar-se algumas outras desvantagens na sua
utilização como fonte:
·
O
facto de corresponder a uma energia não renovável, pressupõe o seu esgotamento
a longo prazo, na esteira do petróleo;
·
A
água utilizada como fonte de arrefecimento dos reactores apresenta larga escala
de poluição. Uma vez lançada ao rio ou mar, provoca desequilíbrios sem retorno
no ecossistema;
11
·
A
possibilidade de utilização para efeitos bélicos, nomeadamente em armas
nucleares, estabelece uma das principais e maiores desvantagens da energia
atómica. De facto, esta constitui uma das maiores preocupações a nível mundial.
Projectos nuclerares como o do Irão,
afectam não só a estabilidade económica como também a estabilidade social.
A
este propósito, a União Europeia tem vindo a mostrar especial relutância. Na
sequência da instabilidade denotada ao nível da utilização da energia nuclear
para fins não pacíficos e, portanto militares, a Comissão Europeia emitiu
comunicado dirigido ao Parlamento e Conselho Europeu, cuja incidência de
conteúdo se baseia na não proliferação da energia nuclear para fins não
pacíficos[12].
·
Tanto
o investimento inicial, como a posterior manutenção, representam elevados
custos. A grande maioria dos Estados possuidores de energia nuclear, não possuem
Urânio pelo que, ao ser importado acarreta investimento contínuo e dispendioso.
“Os operadores de reactores nucleares compram
habitualmente concentrados de minério de urânio e celebram contratos com os
fornecedores de serviços do ciclo do combustível para a conversão química
desses concentrados em hexafluoreto de urânio, seu enriquecimento e conversão
química em óxido de urânio e, finalmente, para a sua transformação em elementos
de combustível para posterior carregamento em reactores de potência.
12
Em todas estas actividades de produção,
prevalecem os contratos a longo prazo (tipicamente de 5 anos, mas não sendo
raros os contratos de 10 anos ou mais). As entregas nos mercados a pronto
pagamento desempenham um menor papel, ainda que os preços nos contratos a longo
prazo estejam frequentemente ligados aos mais recentes preços a pronto
pagamento.”[13]
4 4 – Industria Nuclear
·
A título de
segurança internacional, a Comunidade Europeia tem sido pioneira no que toca a
regulamentação e controlo relativamente ao uso desta energia alternativa.
Assim, não será admissível a todo e qualquer Estado Soberano instalar centrais
nucleares. Será necessário o cumprimento de determinados requisitos e
condições, a fim do licenciamento do projecto. Com efeito, é necessário
respeitar-se todo um quadro de licenciamento europeu[14]:
“O
documento EUR é um caderno de especificações para as instalações nucleares
elaborado por um grupo de investidores potenciais na geração de electricidade
na Europa, na sua maioria empresas de serviços públicos e outras instituições
industriais, inicialmente destinado a facilitar o processo de licenciamento dos
reactores EPR. Embora utilizado como base para a especificação das propostas de
novas construções nucleares na Finlândia (EPR de Olkiluoto 3) e Bulgária
(AES-92 de Belene), não constitui uma norma de segurança dos modelos com valor
regulamentar a nível da UE.
13
"A associação WENRA reúne
as autoridades reguladoras no domínio nuclear dos Estados-Membros da UE e da
Suíça. Entre os seus principais objectivos está o desenvolvimento de uma
abordagem comum da segurança nuclear, o fornecimento de uma capacidade
independente para examinar a segurança nuclear nos países candidatos e em vias
de adesão à UE e o estabelecimento de uma rede de reguladores na Europa através
do intercâmbio de experiências e da discussão de questões de segurança
relevantes. A WENRA estabeleceu e revê regularmente os seus níveis de
referência aplicáveis à segurança dos reactores, tendo em conta os requisitos
de segurança emitidos pela Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA).”
·
Será igualmente necessária a promoção de sistema de
segurança e confinamento de modo a proteger
tanto os impactos internos causados por acidentes como os impactos externos;
·
A energia nuclear tem dificuldade em criar uma aceitação social
generalizada. O apoio governamental podia ser utilizado como credibilidade e
facilitismo ao investimento privado, o que implicaria o empenho dos principais
partidos políticos. Cabe aos Governos e entidades reguladoras na área da
segurança desempenhar de forma clara e consistente os procedimentos de
licenciamento e de autorização de instalações nucleares;
·
As centrais nucleares devem também ser
protegidas cuidadosamente contra as tentativas de sabotagem ou os ataques
terroristas e a possibilidade de roubo de materiais nucleares. As mais recentes
centrais construídas na UE incluíram na sua concepção salvaguardas e requisitos
de segurança, constituindo assim um exemplo em termos de salvaguardas nucleares
e de não-proliferação.
Existem actualmente três tipos de reactores
nucleares, utilizados no processo de produção da energia nuclear:
·
Reactores da Geração I – desenvolvidos entre 1950-1960. Nenhum deles se encontra
actualmente em funcionamento na União Europeia, com excepção do Reino Unido;
·
Reactores da Geração II – predominam actualmente na União Europeia (de entre os 27
Estados-Membros) bem como no resto do mundo;
·
Reactores Geração III – constituem reactores avançados de água leve e modelos de
concepção evolutiva. Oferecem vantagens do ponto de vista económico e de
segurança relativamente às anteriores gerações e são, por isso mesmo, os novos
modelos propostos para construção na EU.
4
– Opiniões sobre a temática
·
Em 2004 James Lovelock, ambientalista, surpreende o mundo com a
manifestação de voto a favor da
utilização da energia nuclear, afirmando que só esta alternativa poderá
paralisar a emissão de gases de estufa. Afirma ainda que,
pelo final do século, a temperatura média nas regiões temperadas aumentará 8°C e nos trópicos até 5°C, tornando a maior parte das terras do mundo
inabitáveis e impróprias para a produção de alimentos.
15
“O aquecimento global resulta da nossa dependência dos
combustíveis carbónicos, como o carvão, o petróleo e o gás natural. Se
conseguíssemos evitar queimar esses combustíveis «fósseis», o aquecimento
global tornar-se-ia mais lento.
Mas como fazer isso?
A verdade é que
existe uma tábua de salvação bem à frente dos nossos olhos. Se a agarrarmos
imediatamente, podemos salvar o Mundo- tanto das consequências do aquecimento
global, como das falhas de energia que nos ameaçam. É uma solução segura, bem
experimentada, prática e barata.
A nossa tábua de salvação é a energia nuclear”[15]. Afirma ainda que,
A nossa tábua de salvação é a energia nuclear”[15]. Afirma ainda que,
“A oposição à Energia Nuclear se baseia num medo irracional,
alimentado por Hollywood, os lobbies e a mídia” e que ”os medos são
injustificados dado que desde o inicio da sua utilização em 1952, se tem
provado tão segura como qualquer outra fonte de energia”.
·
Com igual voto a favor, podemos falar de Patrick
Moore
(um
dos fundadores do Green Peace), que 1986
se afastou do Green Peace para
criar, em 1991 a Greenspirit, empresa prestadora de consultoria ambiental à indústria
madeireira, nuclear e de biotecnologia.
·
Na mesma esteira, Mira
Amaral, licenciado em Engenharia
Electrotécnica, pelo Instituto
Superior Técnico da Universidade
Técnica de Lisboa (1969), forte defensor da utilização da
energia nuclear, há três anos que defende que Portugal
deve considerar a opção nuclear, dando apoio a Vitor Constâncio (em 2008), a propósito
das suas declarações quanto à ponderação da utilização da energia nuclear em
Portugal.
16
“Vitor Constâncio defendeu a
necessidade de estudar todas as hipóteses que permitam reduzir a dependência
energética, relançando o debate sobre a energia nuclear.”[16]
“Uma hipótese aplaudida pelo
ex-ministro da Indústria e da Energia Mira Amaral”.
·
Naturalmente contra toda a temática nuclear bem como
ao comentário tecido pelo governador do Banco de Portugal, a propósito da
ponderação da utilização da energia nuclear a Quercus, declara que a opção é errada. Se o objectivo é diminuir os
custos da energia, então a solução não passará pela energia nuclear dada a sua
incomportável sustentabilidade.
“A associação ambientalista recordou
que “um dos argumentos contra o nuclear é que é muito insustentável do
ponto de vista de custos”, alegando ainda que um central em Portugal teria uma
dimensão que não conseguia ser suportada pela rede eléctrica nacional, além dos
problemas de tratamento dos resíduos gerados pelo nuclear e da questão do
risco. “[17]
17
A Quercus é uma
associação portuguesa que se afirma, independente, apartidária, de âmbito nacional, sem fins
lucrativos e constituída por cidadãos que se juntaram em torno do mesmo
interesse: Conservação da Natureza, recursos naturais e na Defesa do Ambiente em geral. O seu nome advém das árvores
características dos ecossistemas florestais mais evoluídos que cobriam o país,
das quais restam relíquias degradadas.
Passados 27 anos
desde a catástrofe de Chernobil, a Quercus emite comunicado mostrando
preocupação quanto à central nuclear de Almaraz (em Espanha, fazendo fronteira
com Portugal) cuja longevidade expirou e à qual foi prolongado o período de
actividade.
“Após o último grave acidente nuclear em Fukushima, no Japão,
o Grupo de Reguladores de Segurança Nuclear Europeu levou a cabo um conjunto de
testes de stress (stress tests), por forma a averiguar a segurança das centrais
nucleares na Europa.
Em Portugal, como não existem centrais nucleares, não se
realizaram estes "stress tests", no entanto, a preocupação da Quercus
relativamente a esta questão mantem-se pois a Central Nuclear de Almaraz,
localizada a 100km da fronteira e junto ao rio Tejo, continua a revelar-se como
um potencial perigo para toda a região transfronteiriça. Com efeito esta
central já ultrapassou o seu período normal de funcionamento e, não obstante,
viu prolongado em 10 anos o seu período de actividade”.[18]
6 – Em Portugal
Em Portugal, a electricidade que chega aos
consumidores provém maioritariamente das centrais termoeléctricas, gás natural,
fuelóleo, biomassa e centrais renováveis, instaladas no nosso país sendo que a
restante energia é importada de Espanha.[19]
18
Em Junho de 2005, Patrick Monteiro de Barros anunciou a intenção de construir uma
central nuclear em Portugal. Investimento correspondente a 3500 milhões de
euros para uma unidade de 1600MW, utilizando a tecnologia EPR (Reactor de
Pressão Europeu) proveniente de capital privado.
“Com a proposta,
será possível "reduzir a dependência do exterior, diminuir o saldo da
balança de pagamentos, cumprir os compromissos de Quioto de redução das
emissões de gases de estufa e sobretudo contribuir para a criação de riqueza
nacional", com electricidade produzida a partir de urânio nacional. “ (Jornal PÚBLICO)[20].
“A central que
pretende construir corresponde à tecnologia conhecida pela sigla EPR (European
Pressurized Water Reactor). A nova geração de centrais EPR é considerada pela
indústria nuclear como a mais eficiente, económica e segura. A sua capacidade é
de 1600 megawatts, 25 por cento mais do que a central eléctrica de Sines, a
maior do país. Para construí-la são precisos 57 meses, após o licenciamento, e
o seu tempo de vida é de 60 anos.[21]”
A construção de
uma central nuclear constitui um projecto ambicioso, mais a mais para quem não
tem Know-How, como o caso português. Pressupõe investimento não só quanto ao ponto de
vista da engenheira, como também do ponto de vista económico. Para a construção
de uma central nuclear, o risco é especialmente acrescido não só pelos valores
envolvidos, mas também pelo facto de requerer uma continua manutenção e
preservação, para os quais não estamos habilitados. Estão associados riscos
específicos como sendo os custos de produção, desempenho operacional e riscos
de mercado, que seriam naturalmente suportados pelo consumidor.
“Uma
central nuclear tem custos de construção bastante mais elevados que uma central
equivalente alimentada a carvão ou a gás. A sua exploração é, contudo, menos
dispendiosa ao longo do período de vida previsto no projecto, devido a custos
de combustível mais baixos e previsíveis. Mas o volume do investimento inicial
e o tempo necessário para o reembolsar representam um risco elevado para as
empresas privadas que vendem electricidade no âmbito de contratos a curto prazo
ou nas bolsas comerciais.
Até agora, isto tem favorecido as instalações
de geração com menores custos de capital e custos de combustível mais elevados,
potencialmente flutuantes (como as centrais a gás). O aumento dos preços dos
combustíveis fósseis nos últimos cinco anos está a pressionar fortemente uma
reavaliação da estrutura de financiamento, conduzindo a um interesse renovado
no investimento em novas centrais nucleares”
(Comunicação da Comissão ao Parlamento
Europeu, ao Conselho e ao Comité Económico e Social Europeu - Actualização do
programa indicativo nuclear no contexto da segunda análise estratégica da
política energética)[22]
Projectos desta dimensão, carecem
necessariamente da intervenção da entidade estadual. Dificilmente estará
acessível a uma pessoa em nome individual e até mesmo empresa. Quando comparada
com outras tecnologias de produção de energia eléctrica, a construção de uma
central nuclear é caracterizada por um longo período de tempo – 3 anos de
preparação do projecto; 5 a 6 anos para a construção – e em movimentações de
avultados valores monetários[23].
A todos estes
factos, acresce ainda a enorme instabilidade política vivida em Portugal. A construção
de uma central nuclear iria abranger o período correspondente a duas
legislaturas, o que implicaria um consenso nacional inexistente, a fim de
minimizar o risco político da sua construção. Ainda assim, e dada a flutuação
do preço dos combustíveis no nosso país, poderá eventualmente despertar o
interesse pelas novas tecnologias, nomeadamente a produção e utilização
próprios de energia nuclear.
20
Na sequência de tudo o
exposto, é necessária a concretização de ideias.
A consideração da energia
nuclear como alternativa aos combustíveis fosseis deverá ser feita mediante uma
ponderação de interesses. Cumpre acima de tudo comparar os custos e os
benefícios que se podem retirar de uma tal fonte. Ficou dito que, se por um
lado, a energia nuclear permite uma menor ou até inexistente emissão de gases
para a atmosfera minimizando os danos ambientais, por outro, a qualidade de
vida da comunidade é posta em causa aquando acidentes como Chernobil. Permitindo
o distanciamento do consumo de petróleo pelos Estados Soberanos e a consequente
generalização da sua utilização, permitir-se-á implicitamente a aplicação da
energia nuclear para fins não pacíficos.
Apesar das consequências
inestimáveis num contexto acidental, as probabilidades das mesmas se
verificarem são cada vez mais reduzidas pelo que, a este propósito, não creio
que o fundamento se possa sobrepor relativamente ao beneficio que se retirará
da não emissão de gases poluentes e da consequente eliminação do efeito de
estufa.
Relativamente à
utilização da energia nuclear para fins não pacíficos, e na linhagem de tudo o
acima exposto, creio estar-se em condições de concluir que é cada vez mais
generalizada a preocupação a este respeito e que, nesse mesmo contexto, é cada
vez maior e mais densificada a legislação para o devido controlo.
Assim, e a título
pessoal, estou em crer que a utilização da energia nuclear como fonte
energética se poderá considerar uma mais-valia a médio e longo prazo. O
beneficio que trará para a esperança média de vida da raça humana poderá
superar quaisquer desvantagens a apontar.
21
BIBLIOGRAFIA
·
DA SILVA, Alessandro - “ A energia nuclear e o Direito Comunitário do Ambiente”. Coimbra:
2008. Faculdade de Direito, Universidade de Coimbra. Tese de Mestrado;
·
SANTOS DIAS, Gonçalo – “Os custos da energia nuclear”. Lisboa:2009. Instituto Superior
Técnico, Universidade Técnica de Lisboa. Tese de Mestrado;
·
DIRECTA
2009/71/Euratom. EUR-Lex
(2009/06/25), que estabelece um quadro comunitário para a segurança nuclear das
instalações nucleares;
·
Comunicação
da Comissão ao Conselho e ao Parlamento Europeu. EUR-Lex
(2009/03/26), /* COM/2009/0143
final */, Comunicação sobre a
não proliferação nuclear;
·
Parecer
do Comité Económico e Social Europeu sobre a «Fusão nuclear». Jornal
Oficial da União Europeia. 7.12.2004. C 302/27. 2004/C 302/07;
·
Comunicação da Comissão ao
Parlamento Europeu, ao Conselho e ao Comité Económico e Social Europeu – PONTO 3.2 (QUESTÕES
LICENCIAMENTO). PONTO 3.3 (QUESTÕES FINANCIAMENTO) - Actualização do programa
indicativo nuclear no contexto da segunda análise estratégica da política
energética. /* COM/2008/0776 final */;
·
Jornal PÚBLICO (Online). Jun. 2005 –
Lisboa: Sector economia, “Investidores portugueses propõe central nuclear”;
·
Jornal
de Notícias (Online).Julho 2008 – Lisboa: Sector Mundo,
“Central de Fukushima poderá ter registado nova fuga de água radioactiva”;
·
Associação
Nacional de Conservação da Natureza - QUERCUS. Comunicados 2013 –
Abril, “Quercus volta a exigir o encerramento da Central Nuclear de Almaraz,
junto à fronteira”.
22
Notas de Rodapé:
[11] ) Edição 07/04/13, SECÇÃO MUNDO , Jornal de
Noticias, Central de Fukushima poderá ter registado nova
fuga de água radioativa.
[16] ) Edição Julho
2008, CORREIO DA
MANHÃ, Energia nuclear divide opiniões.
[1])Ponto 2.2 do Parecer
do Comité Económico e Social Europeu sobre a Fusão Nuclear“ Em 1928, foi descoberto que a fusão
nuclear era a fonte de energia (até então inexplicada) do Sol e da maior parte
das estrelas. Desse modo, a fusão nuclear é igualmente, graças à radiação
solar, a fonte da vida na Terra, permitindo o crescimento das plantas, a formação
dos combustíveis fósseis e as fontes de energia renováveis.”
[2] ) Ponto 2.5 do
Parecer do Comité Económico e Social
Europeu sobre a fusão nuclear.
[3]) Ponto 2.7 do Parecer do Comité Económico e Social
Europeu sobre a fusão nuclear.
[4]) Ponto 2, 2º Paragrafo
do Comunicado da Comissão ao Conselho e ao Parlamento Europeu, sobre a não
proliferação nuclear,” O aumento da
procura de energia a nível global, as preocupações com a segurança do
aprovisionamento e o reconhecimento da necessidade geral de reduzir as emissões
de CO2 para atenuar os efeitos das alterações climáticas estão a suscitar um
interesse renovado na energia nuclear em todo o mundo.”
[5] ) Ponto 6.1 do Parecer do Comité Económico e Social sobre
a fusão nuclear.
[6] ) Preâmbulo Convenção Europeia sobre segurança nuclear.
[7]) Ponto (5)
dos Considerandos preambulares do Regulamento
(EURATOM) 300/2007.
[8] ) Ponto (7) dos
Considerados preambulares do Regulamento
(EURATOM) 300/2007.
[9] ) Ponto (8) dos
Considerandos da Directiva
2009/71/EURATOM.
[10]) Ponto (2) dos
Considerandos preambulares do Regulamento
(EURATOM) 300/2007.
[11] ) Edição 07/04/13, SECÇÃO MUNDO , Jornal de
Noticias, Central de Fukushima poderá ter registado nova
fuga de água radioativa.
[12] ) Comunicação da Comissão Europeia ao Parlamento e
Conselho Europeu – Comunicação sobre a não proliferação da energia nuclear para
fins não pacíficos.
[13] )Ponto 4 –
QUESTÕES DE APROVISIONAMENTO DE COMBUSTIVEIS NUCLEARES, Comunicação da Comissão ao Conselho, Parlamento e Comité Económico e
Social Europeu - sobre a actualização do programa indicativo
nuclear
no contexto da segunda análise estratégica da política energética.
[14] ) Ponto
3.2 – QUESTÕES DE LICENCIAMENTO, Comunicação
da Comissão ao Conselho, Parlamento e Comité Económico e Social Europeu - sobre
a actualização do programa indicativo nuclear no
contexto da segunda análise estratégica da política energética.
[15] ) REVISTA SELECÇÕES, artigo bibliográfico;
SZKLARZ, Eduardo. O Gandhi nuclear.
Revista Superinteressante Brasil, Dezembro de 2004.
[16] ) Edição Julho
2008, CORREIO DA
MANHÃ, Energia nuclear divide opiniões.
[17] ) Edição Julho 2008, CORREIO
DA MANHÃ, Energia nuclear divide
opiniões.
[19] )DIAS, Gonçalo. “Os
custos da energia nuclear”. Tese de Mestrado IST (Instituto Superior
ténico), 2009.
[21] ) PUBLICO,
Jornal. “Investidores portugueses propõe
central nuclear”. 2005 (25 de Junho).
[22] )Ponto (3.3), QUESTÕES DE FINANCIAMENTO, Comunicação
da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho e ao Comité Económico e Social
Europeu - Actualização do programa indicativo nuclear no contexto da segunda
análise estratégica da política energética.
[23] ) )DIAS,
Gonçalo. “Os custos da energia nuclear”. Tese de Mestrado IST (Instituto Superior ténico), 2009.
Mónica Lopes
Nº16794
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